
Há noites demasiado frias para não estar nos teus braços.
Foi numa dessas noites que fechei os olhos com força e com mais força desejei, de uma forma telepática, conseguir fazer-te sentir que o teu lugar era ali ao meu lado. O telefone havia de tocar, tinha que tocar... como era possível não sentires o meu desejo chegar a ti? Um desejo tão violento que me fazia temer, e secretamente ter esperança, que atravessasse paredes e pontes e se entranhasse no teu corpo.
Tinha que tocar, maldito telefone! Hoje ou nunca mais! E o silêncio quase me enlouqueceu.
Tinha que te ter nessa noite. Decidi enviar-te uma sms simples e directa ," quero-te agora! ". Limitaste-te a responder uma daquelas merdas que te fazem tão bem, que quase deitam tudo por terra, " deixa-te de tretas, vamos é beber um copo ". Pensei que íamos beber os copos que quisesses mas que nessa noite ías ser meu.
Entrei no carro e cumprimentei-te como se cumprimenta um amigo, mas nada me deixava sossegar. As tuas mãos no volante, os teus dedos a mexer no rádio, a tua voz, os olhos no retrovisor, tudo o que era banal transpirava sensualidade.
Entrámos num bar, numa rua de uma Lisboa que à noite se torna demasiado romântica. E na verdade, bebemos os tais copos, falámos de banalidades, comportámo-nos como amigos e nem uma palavra sobre qualquer assunto que fosse comprometedor. Uma saída como tantas outras que já fizémos. Mas o olhar... no olhar havia te(n)são.
Estava na hora de regressar a casa e já sentia a frustração de um final como todos os outros. A desilusão de mais um fracasso, de mais uma noite desperdiçada, a convicção de que jamais te iria ter.
Enganei-me. O teu beijo de despedida não foi de amizade, foi um beijo que pedia muito mais, um beijo que foi o início do que já deveria ter vindo há muito tempo. Puseste o carro em movimento novamente, sem uma palavra. Permiti-me a liberdade de pousar a mão na tua perna e tu permitiste-te a liberdade de pousar a mão na minha mão. O meu corpo começou a entrar em êxtase enquanto adivinhava e ansiava pelo momento seguinte.
E finalmente o carro parou, num daqueles sítios com uma paisagem de cortar a respiração, possivelmente onde engatavas outras mulheres. Confirmaste a minha suspeita mas afirmaste que comigo era diferente, era tudo diferente. Já não acredito numa palavra tua mas não quis estragar o momento. Falámos sobre nós, senti-me em sintonia contigo, mesmo que tudo fosse puro engano aquela noite era minha. Beijaste-me mais uma vez e quis ficar ali para sempre. O cliché de " quem me dera que o tempo parasse agora " fazia sentido na minha cabeça.
Começou a tocar no rádio uma música que, bem ou mal, para nós era cheia de significado. Quiseste dançar comigo e dançar era o mesmo que perdermo-nos ali. Aumentaste o volume do rádio, ligaste os faróis e saímos do carro. Dançamos ali mesmo, quase imaculadamente iluminados, enquanto o corpo começava a ceder à vontade.
Deitaste-me no capot do carro, e os teus beijos, embalados pela música, percorreram o meu corpo quase milimetricamente. Seguraste-me os braços acima da cabeça enquanto me saboreavas como se fosse a última refeição de um condenado. Os seios, as cochas, a vagina molhada. E foi aqui que te detiveste, foi aqui puseste em prática o prometido, foi aqui que tornaste palpável a tua paixão. Lambeste, chupaste, brincaste, enquanto eu enlouquecia e tudo esmorecia à minha volta. Estava demasiado excitada para continuar sem ti. Despi-te as calças e os boxers, acariciei-te com as mãos, com a boca, beijei-te mais uma vez e com a minha mão encaminhei-te com urgência para dentro de mim. E essa urgência também era tua. Não foste meigo nem te pedi que fosses. Penetraste-me com paixão, com a vontade contida durante tanto tempo. Uma e outra vez. Não sei durante quanto tempo, mas podia ter durado uma eternidade. Sentir-te dentro de mim foi o culminar de todos os desejos do universo em uníssono. Os gemidos ecoavam na paisagem virgem, que contrastava com uma cena pouco púdica e aberta a quem quisesse ver.
Finalmente o orgasmo, espectacular, em simulâneo. Prometeste-me mais. E na noite fria, estava finalmente nos teus braços, e entre os nossos corpos existia muito mais do que as palavras podiam expressar. Prometemos regressar, muitas vezes....